terça-feira, 20 de outubro de 2009

Câimbras

Certamente seria mais uma viagem dos infernos..."Boa noite irmãos, meu nome é Djair e desejo a todos uma boa viagem, com a graça de Deus, nosso senhor e pastor, serei iluminado para conduzi-los em segurança, amém". Que impostor! Nunca consegui compreender a necessidade geral de se clamar à potência metafísica ante a eminência - quase sempre escatológica - de partir numa jornada de deslocamento espaço-temporal. A idéia de abrir mão do suposto domínio sobre o meu próprio destino, é verdade, me causa certos espasmos gastrointestinais, sobretudo quando faço-o em favor de um condutor que tem certeza de que meu destino - como o dele e o de todos os outros sob seu temporário controle - depende estritamente dos desígnios do sobrenatural.

É certo que os espasmos sempre passaram, pelo menos até hoje, o que significa que o "trânsito pelo inferno" não coincide necessariamente com a morte. Bom para todos, mas especialmente para mim, cuja existência, se presume - do ponto de vista daquilo que lhe concerne - é a mais relevante dentre todas as outras. Certo, também, que do ponto de vista mais geral da história do universo, minha presunção, além de histórica e inútil, nada mais é que insignificante... como um peido inodoro. Sorte que, no mais das vezes, nos esquecemos destes pontos de vistas mais gerais, caso contrário a própria idéia do niilismo perderia o sentido: niilismo sim, mas desde que eu esteja no comando!

"Amém!!" repete o coro taciturno de passageiros. Pergunto-me se de fato eles compreenderam o significado, talvez escatológico, da sutil mensagem de nosso condutor, potencial algoz de merda! Como poderiam, apesar da aquiescência? Da seção intermediária de assentos, e de onde o coro foi o mais vigoroso, um certo joselito se deleita em versos nada apetitosos, acompanhados por uma batida quase atônica, procedente de um destes aparelhos eletrônicos que tornaram os fones dispensáveis – suas vítimas talvez ansiassem por uma dupla razão. Os da seção inicial exalavam todos aqueles odores pré, inter e pós-digestão. Dali, evidente, veio a voz menos vívida do coro, por assim dizer, já que quase todos estavam ocupados em deglutir seus bolos alimentares, distraídos em disseminar seus subprodutos gasosos. Do banheiro, o processo digestivo já atingia o estágio avançado de decomposição. Este infeliz, ao menos, parecia ser sagaz, já que pela composição da essência tinha se dado ao trabalho de acender uma ponta sintética para dissimular sua brenfa bem orgânica e poder enfim entrar na trip.

Certamente dos infernos...

Pergunto-me também se seria mera coincidência se uma vontade de potência absurda fizesse com que, dentre os passageiros, apenas eu sobrevivesse ao termo da mini-epopéia.

Quanto a mim, nada pude responder. Apenas pensei: "Brain of J.F.K ou Sir Psicho Sexy?... Seria possível incluir o Djair na lista de passageiros?”

(halaleluia)

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

O Hijo da Bitch

No dia 17 de julho de 2008 foi encontrado o corpo do jovem Yuko, descoberto no interior de uma construção, ao que tudo indica, abandonada no que, também ao que tudo indica, viria a ser o banheiro de serviço. Um casal de hippies de butique que certamente achou o local atraente para umas bolas e umas trepadas chamou a polícia.

Ao lado do corpo do pobre Yuko havia uma pistola Colt .45, o que restava de seus miolos estava espalhado por todos o lados em 3-D, talvez 4-D, e uma pequena nota com os seguintes dizeres: “São muitas identidades em potencial para um indivíduo sem potência alguma”. Em princípio, nada muito surpreendente, já que nessa época em que vivemos uma das principais ocupações dos jovens é exatamente trocar de identidade. Às vezes o fazem de modo muito promíscuo.

Seria mais um caso típico de suicídio motivado por uma profunda crise de anomia (simplificadamente: perda de identidade) não fossem dois fatores: 1- a nota datava do dia 17 de agosto de 2007; 2- fora escrita no verso do cartão da mais tradicional casa de massagens argentina, a La Cicciolina. Decerto que o pobre rapaz não jazia ali, naquele incômodo insólito, apodrecendo, ao abrigo do sol, mas sob os desígnios das moscas e outros seres nojentos e irrelevantes, destituído do direito a uma cerimônia religiosa a conduzi-lo para o outro lado – não me interessa investigar qual delas exatamente – há exatos onze meses. Embora seu estado de decomposição estivesse ligeiramente avançado ele – ou agora o que ainda restava dele – fumou seu último cigarro, um genuíno Philip Morris, há cerca de duas semanas (mais tarde saberia que há exatos 13 dias, 23 horas, 59 minutos e 44 segundos – sim, o poder de precisão destes exames é assustadoramente impressionante).

De qualquer modo, dadas as circunstâncias em que fora encontrado, morto há 14 dias (exatamente), sem documentos – só a nota e o maço de cigarros vazio no bolso –, ou reclamações de desaparecimento, Yuko foi enterrado como indigente e o caso dado por oficialmente encerrado: suicídio motivado por uma profunda crise de anomia. Não que aparentasse ser um indigente, longe disso! Trajava roupas importadas de incontestável procedência e não fosse pelo sangue e toda aquela sopa de elementos decompostos, em decomposição ou sendo decompostos, bem que poderiam ter sido doadas a um bazar ou a uma casa de caridade, pois os invernos por aqui têm sido bem rigorosos... Alguns dias se passaram, nenhum caso novo para investigar, a mente cada vez mais vazia... como aquele maço de Philip Morris. “Muitas identidades em potencial... (nem sempre a mente vazia é a oficina do diabo)... um indivíduo sem potência alguma”. Apesar da patente questão da identidade para os jovens de hoje, deveria haver algo mais profundo, para além da obviedade e (talvez) manifesto desespero, naquela nota. Sou o Dr. Nótar, condecorado detetive da nação e de Buenos Aires e, por deus, o jovem Yuko tinha idade para ser meu filho.

O La Cicciolina fica na Avenida de Mayo nº 528 e sua fama só é precedida por sua reputação. Ali só se encontra a melhor carne do mercado. Digno notar que neste caso a carne mais barata do mercado não é a negra, muito pelo contrário: caríssima e muy rica! Assim como as brancas, rosadas, mulatas, albinas, amarelas, vermelhas... Uma monarquia assentada sobre o valor da democracia racial. Nos tempos da universidade e de dureza (ambas), eu e uns amigos passávamos semanas à fio juntando um bom troco para apreciar uma entrada no Café Tortoni e degustar um prato principal na Ciccio, como gostávamos de dizer... Não seria exagerado afirmar que “comemos todo o mundo”. Mas, sem sombra de dúvida a melhor carne do pedaço (não sou o inventor da terminologia) era Madame Módena. Esta carne, porém, não estava à venda: “Não dou para viver, muchacho, vivo para dar, com pouca moderação e muita intensidade”, ela gostava de dizer, mas apenas para os que mais lhe afeiçoavam. Decerto seu lema era muito apropriado, haja vista que advinha de uma abastada família italiana. Ela apenas gostava de sexo.

Madame Módena era tão bela quanto excêntrica, uma excentricidade utópica, uma utopia anacronicamente esquizofrênica. Apesar de sua forte raiz italiana, ela era profundamente apaixonada pelas Américas, a do norte, a portuguesa e a hispânica, a francesa nem tanto. Isto se notava pela decoração de sua casa: passada a grande porta de entrada nos deparávamos com um grande salão, de decoração bem eclética: à direita, um imenso balcão de madeira com toda uma série daqueles bancos giratórios (“Deve-se ter tudo o que se quer à vista, sempre”.) fixos no chão; à esquerda, vários sofás em couro cor vermelho-sangue não reluzente e sim opaca; diversas palmeiras e outras plantas e árvores tropicais, sub e sobre-tropicais espalhadas aqui, ali e acolá serviam de suporte para a iluminação – tudo sempre à vista..; presos às paredes, nada de espelhos, diversos quadros, pôsteres, pinturas e máscaras regionalistas distribuídas de maneira aleatória, cuidadosamente aleatória; cada mulher recebia o nome de uma iguaria tipicamente americana; as salas de refeição não são importantes neste momento. Quando adolescentes éramos um tanto quanto interrogativos em relação ao universo simbólico, por assim dizer, das mulheres da vida; fazíamos diversas perguntas estúpidas para todas elas. Uma espécie de etnologia pervertida. Mas, Madame Módena sempre se antecipava às perguntas, talvez por já saber como funcionam estas coisas, e as outras também. “Impressionados com a decoração muchachos? Minha tentativa de realizar o pan-americanismo: uma só América e todas as Américas ao mesmo tempo, com algumas pitadas do resto do mundo, pois, afinal, sem o resto do mundo o que seria da América, certo?” Muito inteligente e excelente fisionomista, Madame Módena só ditava essa sequência, ao mesmo tempo ingênua e profundamente cínica, tão verossímil quanto absurda, para os novos clientes. Claro! Ninguém ia à Ciccio para se inundar de história e sim para descarregar trivialidades... a questão aqui era foder com toda a América e, se possível, com o resto do mundo também. Afinal...

Sobre sua rotina só posso relatar o que diz respeito às suas atividades na casa. Embora não tivesse de trabalhar, Madame Módena gostava muito de entrar em ação, às vezes mais, às vezes menos – nunca fui capaz de deduzir a razão da alternância – mas sempre em ação. Apenas apontava o próximo, pois jamais fora rejeitada. O próximo sempre. Os próximos nunca. Ela não gostava de orgias e neste particular, apenas neste particular, pode-se dizer que era tradicional. Um, dois, três, quatro... nunca mais de oito por noite. Não sei muito bem o porquê, talvez um número cabalístico. Esse critério poderia ser, naturalmente, incorporado a outros: inicial do nome, nacionalidade, faixa etária, profissão, tamanho, cor ou tipo de cabelo... um verdadeiro banquete pantagruélico e a la carte. Jamais esquecerei a primeira vez que vi aquele dedo apontando em minha direção... Digamos que Madame Módena tinha grande afeição por minha pessoa.

Cerca de vinte e cinco anos depois estou aqui, em frente à Ciccio. Como era de costume noutros tempos, parei no Café Tortoni, desta vez sem nutrir nenhuma expectativa com relação ao prato principal. Nada de prato principal para mim, estou muito satisfeito com minha mulher. Trata-se apenas da repetição, em parte evidentemente, de um ritual. Algo estúpido para muitos, mas importante para nós. Repetição nostálgica, de veras, pois as coloridas lembranças dos tempos de Ciccio já estavam desbotadas, cinzentas e amareladas, num espaço qualquer reservado às memórias que devem, em princípio, ficar para trás e, pois, serem esquecidas. Aquela maldita nota, naquele bendito cartão, logo aquele cartão, me levou de volta ao dia em que visitei Madame Módena pela última vez (uma última ceia da qual outro pobre coitado, aquele na cruz, certamente teria inveja) e disse-lhe adeus, convicto de que outras páginas ainda estavam para ser preenchidas. Decerto meu interesse pela história do jovem Yuko não era de todo altruísta. Fumei um cigarro, coisa que não fazia desde então, e avancei pela grande porta. Eram 23:55.

Tudo no interior da Ciccio permanecia como antes, intocado. O balcão, os sofás, as árvores-tropicais-sub-sobre-tropicais-suportes-de-iluminação, os quadros, pôsteres... exceto pelas carnes, deliciosas e variadas como sempre, só que renovadas; e Madame Módena, deslumbrante como sempre, agora curtida pelos anos. Como dizem, os melhores scotches são os envelhecidos. Mas eu também não bebo mais scotch, sem exceções neste caso. Madame Módena me reconheceu imediatamente, não poderia ser de outra maneira, e veio com a graça e vivacidade, acho que posso falar, de sempre, sorridente ao meu encontro. Cumprimentamos-nos e fomos ao seu escritório, falando literalmente, afinal ela era uma mulher de negócios. Entreguei-lhe o cartão.

- Pode me dizer algo sobre isso? Madame Módena leu a nota e imediatamente se liquefez em lágrimas. “É do meu filho Nótar! Sabe de alguma coisa a seu respeito?”

- Receio que sim... suicidou-se há algumas semanas, numa construção, ao que tudo indica, abandonada. Dar notícias desde tipo nunca foi meu forte. Posso lidar muito bem com a morte, mas não fiz curso para ser seu diligente e delicado mensageiro.

Após ter se recomposto, Madame Módena solicitou que todos deixassem a casa. Passamos várias horas conversando, apenas isso, desta vez no salão completamente vazio... como aquele maço de cigarros. Quando fez 27 anos, o que deve ter sido não muito depois de minha última visita, ela resolveu que queria ser mãe: “Se eu não era para o casamento, tinha certeza de que seria para a maternidade”. E como seu critério de escolha dos parceiros era bastante flexível, assim como ela própria, em sua noite fértil deitou-se com apenas três homens: um norte-americano, um brasileiro e um hispano-americano (o franco-americano broxou, então não contamos esse). “Queria que ele fosse um filho da A-M-É-R-I-C-A!” murmurou utopicamente. Mas, como a América tinha um pouco, ou muito - questões ontológicas não são importantes nesse caso – do resto do mundo, após essa noite só voltaria a fazer sexo mais uma vez, com o homem mais bonito que visse, não americano, e daria seu nome a seu filho (não sei como ela tinha certeza de que seria um menino, apenas me disse que tinha seus métodos e disso eu jamais duvidaria). Não que as grávidas não possam fazer sexo, na verdade, nesse período parece que tudo o que elas querem fazer além de comer é serem comidas, mas, acreditava ela, seria falta de ética materna continuar com suas atividades durante a gravidez. Quando Yuko fez 18 anos – 17 de agosto de 2002 – contou-lhe a verdade e desde então não o via, embora o lesse algumas vezes. A ultima vez que tinha lhe escrito fora no dia 16 de agosto de 2007. “Disse-me que ia fazer uma viajem [no] interior... ele nunca foi muito bom em gramática e concordância”.

Tinha, pela segunda vez, dado meu último adeus à Madame Módena e, claro, à Ciccio. Eram 10 horas da manhã. Toda aquela história havia me deixado estranhamente perplexo; confesso que a contadora da história me deixara um pouco excitado, mas isso só prova que eu também não sou de ferro, aliás, que sou duro como ferro. Diferentemente do que julgara, o pobre Yuko realmente deveria ter sérios problemas de identidade. Era ou um filho da puta e/ou um hijo de puta e/ou um son of a bitch. Além do mais, há o problema das variações de paternidade idiomática, o que provavelmente deve ter lhe causado um certo complexo de gênero: se o pai fosse, de fato, o brasileiro, poderia ser um filho da puta ou um(a) filha da puta, homem ou mulher, pois no Brasil pode ser que a concordância não seja respeitada, mas não se pode dizer o mesmo sobre o gênero, já que se for filho da puta, presume-se que seja homem, embora tenha de admitir as inúmeras ocorrências de pessoas muito masculinas chamadas de filha da puta sem se sentirem ofendidas; mas, certamente, pode-se preferir filha da puta, caso em algum momento de sua busca por identidade tenha se perguntado sobre sua opção sexual, hétero, bi ou gay (é engraçado como no Brasil os gays gostam de perverter os gêneros gramaticais); se fosse filho do americano seria apenas um son of a bitch, sem problemas de gênero neste caso, mas com o problema do paradoxal império do machismo linguístico, logo na terra da liberdade, pois nunca houve notícia de uma daughter of a bitch na língua inglesa, o que indica que, ou as putas não podem ter filhas, ou que as filhas não podem ter putas como mãe, e bem pode ser que o jovem Yuko quisesse ser reconhecido como daughter e não como son; caso fosse filho do hispano-americano, sem maiores problemas linguísticos, pois eles respeitam sua língua e são perfeitamente democráticos, no gênero sobretudo, mas ainda restaria o problema de se o jovem Yuko gostaria de ser hijo ou hija, ou primeiro um, depois o outro, depois o um, ou até mesmo os dois ao mesmo tempo, ou nenhum dos dois. E isto não é tudo, pode ser que num momento quisesse intercambiar as coisas, como sua mãe fazia com inigualável excelência em relação aos criérios de escolha dos parceiros: talvez estivesse na dúvida entre ser um norte-americano, filha da puta, de fala espanhola; ou um brasileiro, hijo de puta, de fala inglesa; ou um espanhol, daughter of a bitch, de fala portuguesa; ou tudo ao mesmo tempo (o que naturalmente não seria muito conveniente). Na verdade, pode ser que não quisesse nem ser um algo da puta, de puta ou of a bitch. Isso sem falar no nome Yuko, Madame Módena suspeitava que fosse finlandês, mas àquela altura já não podia ter certeza. “São muitas identidades em potencial para um indivíduo sem potência alguma”. Talvez, se tivesse optado por ser apenas filho de Madame Módena, dona do La Cicciolina, tivesse visto as coisas de modo mais simples antes de estourar seus próprios miolos. Talvez Madame Módena também tivesse tino para ser avó e, assim, ele poderia se pós-graduar em análise combinatória e produzir-lhe exemplares de todas as Américas possíveis, verossímeis ou absurdas, mas sempre com uma pitada, ou muitas, do resto do mundo. Mas, talvez o jovem Yuko fosse sexualmente impotente, uma impotência irreversível, e jamais poderia dar a Madame Módena um neto da puta, um grandson of a bitch, uma nieta de puta... e provavelmente tivesse muchos cojones para se submeter a uma intervenção espermatozóidica.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Partida

Meu últmo cigarro...
amanhã vou-me embora
não sei se deste lugar ou da minha vida
talvez de ambos

um pouco triste, mas muito feliz

sem fotos

com lembranças
o certo é que vou.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Coisas e coisas que foram homens ou homens que viraram coisas?

Escrota! Magnânima! Imponente! Megalomaníaca!
Callao;
Saeñz Peña (sic);
Mitre,
Sarmiento!!
Corrientes;
Lavalle;
San Martín;
Galleria Pacífico (sic);
Florida!
San Telmo;
Caminito!!!!!! My Tango;
Cortázar!
Oh, my fucking...
Cortázar!!
Plaza;
Cofee!
Cigarillos;
Vinos;
Ceniceros livianos!!
Nicholas (but not Saint!!)
Salvia...
Divinolia!

B. A.

Depois de nove dias encontro-me sentado numa cadeira de plástico. Estranha, muito estranha, pois se trata de um plástico cuja cor jamais havia visto.
Está virada para o lado de uma janela; meio varanda, meio balcony (ao estilo inglês). Mas, sim, uma varanda, uma janela... uma varanda ou uma janela. Uma janela-varanda, talvez?? Não importa. Os detalhes são, sempre, irrelevantes.
Apenas mais uma janela-varanda (varanda-janela?)...
Uma cortina estranha... Estilo tropical-retrô! (Seja lá o que isto for). Mas, com certeza se trata de uma cortina: com um buraco de cigarro! Será um cigarro comum? Quem dirá!?
Já passa da meia-noite! Uns homens de verde...?? Não sei...! Quem diabos poderá dizer? Eles sacodem o lixo... mas, nada!
É a avenida Rodriguez Peña! Ela leva, exatamente, até a praça do Congresso. O Congresso Nacional! Imponente! Memórias! Histórias... Nada importante... apenas o silêncio!
Mas, o silêncio é melhor... já que os mortos não falam. Embora memórias tentem permanecer, persistir, urrar: urgência, emergência.... Quem há de se voluntariar... de emergir??
Ninguém escuta!!!!
Silêncio! (de novo)
Uma garrafa de Heineken alerta-me de que já se passaram várias horas. Mas ela continua cheia!
E a cortina... Jamais sonhara ver tal cortina... e com o furo do cigarro! Meu cigarro?... Impossível dizer.
Mas, os homens do lixo continuam passando...
Serão os homens o lixo?
Ou será o lixo os homens?
Não saberei!!
Sabe-se muito pouco, embora muito seja dito! (Mais dito do que pensado, é verdade!)
Mas, será a cadeira verde-musgo?
Ou os homens verdes terminaram sem cadeira para se sentar??
Não sei!
¿Quem saberá?